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CORRA, MARIO, CORRA


(foto: Joel Vargas/PMPA)

 

Roger Lerina

"Maratón de New York" é literalmante uma peça de fôlego: o texto do dramaturgo italiano Edoardo Erba exige que os dois atores corram durante quase uma hora. Em cena, a corrida que praticamente não sai do lugar se presta a uma série de metáforas – da vida como uma prova de resistência cujo sentido é insondável até a amizade que se baseia em cumplicidade e rivalidade.

O grupo colombiano El Hormiguero Teatro adapta a situação a referências culturais do país para mostrar o que parece ser apenas mais uma noite de treinamento para Esteban (Giancarlo Mendoza) e Mario (Andres Caballero), que se preparam para encarar a Maratona de Nova York. Diferentemente da versão brasileira dirigida por Bel Kutner e interpretada por Anderson Muller e Raoni Carneiro, apresentada em Porto Alegre em maio de 2013, a montagem assinada pelo diretor italiano Gianluca Barbadori evoca no palco de forma quase realista o ambiente de uma corrida noturna. A sinalização branca da pista no chão, os sons dos grilos, a névoa espessa que sai do palco e envolve a plateia, a luz oblíqua que ilumina parcamente os rostos dos atores-corredores e replica a alternância cambiante dos postes de rua – elementos que contribuem para que o público acompanhe o percurso da narrativa, que vai de forma gradativa ganhando aceleração e tensão.

Esteban é determinado, assertivo, macho alfa; Mario é hesitante, reticente, sensível. A banalidade da situação e dos diálogos vai se adensando à medida que o tempo passa e ficamos a par de mais informações que desvelam não apenas a dinâmica, a natureza e o histórico do relacionamento entre os amigos, mas também a insuspeitada excepcionalidade daquele encontro. "Maratón de New York" cresce então e inclui em seu roteiro questionamentos existenciais e metafísicos – sem perder o ritmo levemente cômico da encenação.

As marcações precisas da direção e a sintonia perfeita entre a dupla protagonista de "Maratón de New York" extraem o máximo das pretensões da peça, talvez mesmo superando as potencialidades do material original. Há um limite, porém, para a transcendência possível a partir do texto de Erba, que fica aquém do arrebatamento.

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